sábado, 5 de setembro de 2009

TGV, auto-estradas, aeroporto… afinal precisamos de tudo isto?

Quando se fala e decide sobre grandes investimentos tudo deve ser considerado segundo as necessidades imediatas, pois neste momento apenas o que aumente a nossa capacidade de exportação e independência energética é prioritário. Assim sendo, vejamos, muito resumidamente, os factos relativos a cada um dos 3 principais projectos:

1.º- A medida dos nossos carris (bitola ibérica) é diferente da medida europeia e por isso o custo/tempo de exportar via transporte ferroviário é superior, dado que na fronteira francesa é necessário mudar de carruagem. Este facto torna-nos menos competitivos e reduz o potencial logístico do nosso país para destinos europeus. Com um TGV que parta de Sines com destino à linha de TGV na fronteira francesa, ligando ao TGV espanhol no ponto que mais facilite este destino em lugar de ter como objectivo a ligação a Madrid, Portugal poderá tornar-se uma das principais plataformas europeias para mercadorias, porque, em algumas horas, as mercadorias viajariam entre Portugal e os demais destinos europeus, com uma fonte energética independente do petróleo. Como em 3 ou 4 horas uma mercadoria pode viajar em linha de comboio tradicional do Porto, ou de Faro, até a linha de TGV, porque precisamos de construir mais linhas de TGV? Será que é só para os senhores do Porto e de Lisboa pouparem uma dezena de minutos em cada viagem e poderem dizer que têm TGV à porta? Já que, ao observar o exemplo dos preços praticados na maioria das linhas europeias de TGV, não compensa a um passageiro a opção TGV em detrimento de uma passagem aérea low-cost, quantos de nós, podendo comprar uma passagem para Madrid a partir dos 25 euros e pouco mais de 1 hora de viagem, vai pagar mais e por mais tempo de viagem?

2.º- Qual a racionalidade de construir uma 3ª auto-estrada e uma linha de TGV Lisboa-Porto? Dizem que as auto-estradas existentes estão saturadas e por isso é necessário uma terceira. Mas será que a viabilidade do TGV não depende da conquista de uma boa parte dos utilizadores das auto-estradas? Quando se fala na aposta nas energias renováveis o que terá mais lógica, construir uma auto-estrada ou, pelo contrário, estimular o uso de transportes públicos eléctricos? Será que as centenas de milhões gastos há poucos anos na linha do norte foram jogados ao lixo, ou será que a linha ficou com as condições necessárias para garantir o tráfego ferroviário que o país necessita? Será que os milhões foram apenas para sustentar os “amiguinhos” incompetentes na administração da REFER?

3.º- Quando estamos a viver uma crise cujas medidas anti-crise consomem os pequenos recursos financeiros do país, será realmente preciso aumentar os gastos com a construção de um novo aeroporto? Ainda mais quando a previsão é que, com a gradual saída da crise e o consequente aumento do consumo de petróleo, a subida do preço dos combustíveis produzirá um aumento dos preços líquidos das passagens aéreas intercontinentais, o que conduzirá, como provado pelos recentes acontecimentos, a uma redução do tráfego aéreo, e seguramente a um prolongamento dos anos de viabilidade do actual aeroporto de Lisboa.

Tendo tudo isto presente, será que além de uma linha de alta-velocidade, vocacionada preferencialmente para o transporte de mercadorias e que contribui por isso mesmo para um aumento da competitividade do país, não será melhor deixarmos os restantes projectos para um momento em que o país tenha uma maior “liberdade” orçamental? Será justo estarmos a endividar os nossos filhos e netos por vontades e humores da nossa geração? Eu penso que não temos esse direito, e os senhores?

Mas nem tudo é mau e, entre outros, devemos estar contentes com os investimentos do nosso Governo em energias renováveis, só é de lamentar que as medidas disponibilizadas não possam estar mais acessíveis e que os apoios não possam ser maiores. As energias renováveis são uma das maiores riquezas do nosso país, e delas depende a nossa segurança energética e o nosso desenvolvimento económico.

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