sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Portugal uma potência futebolística ou um país do 1º mundo?

Chegaram de novo os indícios da “loucura” do futebol, particularmente a loucura pela selecção. Obviamente que todos nós, portugueses, gostamos de ver os nossos vencer sobre os demais, mas o problema português é que a grande maioria dos portugueses focalizam, no futebol, as frustrações de se sentirem o “irmão” menor da Europa, ficando cegas às questões que realmente importam e que, em rigor da verdade, nos podem colocar novamente e por direito próprio, na divisão dos países ricos e prósperos. Não é algo impossível, apenas necessitamos aprender com as lições que o Infante D. Henrique nos deixou e com as quais nos tornamos a potência mundial que fomos.

Se os portugueses fossem tão preocupados e conhecedores acerca da política, economia e ciência, quanto o são sobre futebol, com toda a certeza estaríamos ao nível do Luxemburgo, para onde emigraram tantos compatriotas em busca de uma qualidade de vida que o nosso país não lhes dava. Em compensação os portugueses sabem sempre quem joga contra quem, quantos pontos temos que ganhar para ficar seleccionados, que jogos de outras equipas são vitais para a nossa equipa. Enquanto isso, os políticos sentem-se completamente à vontade para continuar a manter o regime de corrupção e despesismo que consome os escassos recursos do nosso país e continuam a adiar as difíceis decisões que são essenciais e estratégicas para o nosso país.

Com esse comportamento alimentamos o facilitismo político e os políticos o promovem com os apoios que o Estado, desde ao nível da Junta de Freguesia até ao nível do Governo, transfere para clubes de futebol, ignorando na maioria das vezes actividades com muito mais sucesso e merecedoras da mesma atenção, como são o atletismo e a vela, ou os heróicos atletas que, sem os apoios e reconhecimento que mereciam e ao qual têm direito, representam Portugal nos paraolímpicos.

Quando chegamos ao dia 10 de Junho, dia de Portugal, podemos comprovar esta subjugação do país ao futebol, reconhecendo o país os “heróis” do futebol pelos feitos praticados, como se as suas carreiras não tivesse os seus salários aumentados pela exposição obtida na selecção, e esquecendo os investigadores e empreendedores que procuram aumentar a riqueza e o capital de conhecimento do nosso país.

Um país cresce com o aumento do conhecimento transferido para o tecido produtivo, através do investimento e da criação de emprego, criando assim vantagens competitivas face aos nossos concorrentes económicos. Essa é a lição que podemos retirar da nossa história. Os descobrimentos não foram feitos a partir dos cavaleiros que ganhavam mais torneios e sim pelo recrutamento e valorização dos criadores de conhecimento. Foi o conhecimento que nos permitiu “dar” o mundo ao mundo. Não foram os duelos dos cavaleiros em frente às formosas damas. Em contra partida, hoje gastam-se milhares em apoios e em terrenos para o futebol, mas para a ciência e investigação, ou seja, para o conhecimento e para o desenvolvimento baseado na inovação, nunca há dinheiro. Muitas vezes nem há verba para os centros de investigação pagarem as patentes da riqueza que criaram.

Triumphus ou Rutuba alguém sabe quem foram? Mas Platão, Sócrates ou Pitágoras todos nós conhecemos. Os primeiros eram os Ronaldos do Império Romano e os segundos nem precisam de legenda para serem identificados. A história ensina-nos o caminho e que prioridades devemos ter. Agora os portugueses só têm que decidir qual o caminho a seguir. Começar a dar mais importância e a ter interesse com o que realmente importa, colocando o futebol no seu lugar como uma actividade de lazer, ou assumir que querem continuar uma potência futebolística de 2º mundo e deixar de se queixarem quando, à segunda-feira, depois de uma grande vitória da sua equipa, chegam ao super-mercado e o dinheiro não chega para a despesa.

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