quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Mais um apologista de uma queda no abismo

Mais um apologista da saída de Portugal do Euro. Desta vez foi o Professor do ISEG, o economista João Ferreira do Amaral. Já foi aqui escrito sobre esta ideia de saída do euro em 13 de Novembro de 2010 com o comentário “Ideia insana de pessoas ainda mais insanas” mas desta vez vamos desconstruir a argumentação deste Sr. Professor.
Alega este Sr. Prof. que saímos do euro mas com o apoio do Banco Central Europeu, “é necessário um comprometimento muito grande do Banco Central Europeu: para apoiar a sustentação da nova moeda dentro dos limites de depreciação razoáveis e, num segundo aspecto, criar facilidades de apoio aos bancos no período de transição, para evitar qualquer pânico.”1, ou seja, o que este Sr. Prof. acha, é que vamos sair do euro mas que o BCE e, por conseguinte, a Alemanha e demais países do norte, vão continuar a sustentar Portugal tal qual um filho que se declara independente dos pais mas continua a ir a casa comer, deixar a roupa para lavar e se necessário for, para receber a mesada. A diferença é que um filho é isso mesmo, um filho e Portugal não é filho dos países nórdicos pelo que, se eles já na realidade presente não estão muito contentes por andarem a “sustentar” os países do sul, quanto mais se estivermos fora do euro. Este Sr. Prof. deve achar que os outros países são para com Portugal como Portugal é para com a Angola, que lhes beija os pés e perdoa dívidas.
Diz que a desvalorização da nova moeda “Pelos meus cálculos, algo entre 30% a 40% seria suficiente1, como se, uma vez a nova moeda no mercado de câmbio, nós tivéssemos algum controlo sobre o valor da moeda. Assim que a nova moeda chegasse ao mercado de câmbios seria de tal forma desvalorizada que ficaria pelas “ruas da amargura” e a única forma do Estado impedir isso, seria por acção do Banco de Portugal sobre os mercados, comprando a nossa moeda e vendendo moeda estrangeira, isto em compras gigantescas que custariam fortunas insustentáveis ao país, logo algo impossível de fazer sustentadamente.
A alegação para a saída do euro é que “Todos os sectores de bens transaccionáveis são beneficiados pela desvalorização. Uma desvalorização discrimina estes sectores positivamente. A desvalorização é importante para contrariar os efeitos negativos que decorreram de termos uma taxa de câmbio demasiadamente valorizada.1temos uma divida externa brutal e, portanto, temos de formar excedente da balança de pagamentos para irmos pagando e arranjarmos alguma folga a nível externo. Não conseguimos criar excedentes na Zona Euro dada a debilidade da nossa estrutura produtiva.1. Ora como já anteriormente aqui foi dito, a desvalorização da moeda não concretiza nada do que o Sr. Prof. defende que será alcançado com a saída do euro. A desvalorização da moeda em Portugal tem os seus efeitos mais do que comprovados pela prática destas políticas nos anos do pós 25 de Abril até ao início da estabilidade cambial por via da entrada na CEE e com a preparação para a entrada do escudo no cabaz de moedas do ECU. Foi a aplicação destas políticas que durante anos acarinharam os empresários incompetentes que nunca quiseram reestruturar as suas empresas e sempre quiseram beneficiar de desvalorizações da moeda para fingir competitividade que nunca tiveram.
Durante os anos de aplicação desta política de desvalorização da moeda, a grande maioria dos empresários nacionais, em lugar de criarem empresas competitivas e concorrenciais no mercado internacional para conquistar mercados (lembrar os milhões e milhões de fundos de apoio que tiveram e gastaram em luxos), choravam pela desvalorização do escudo para fazer com que os seus produtos ficassem mais baratos e conseguirem assim ser mais competitivos nas exportações. O problema é que desta forma os portugueses eram obrigados a comprar produto nacional, não porque tinha qualidade e sim porque os preços dos produtos estrangeiros ficavam mais altos, sendo obrigados a comprar nacional tivesse ou não qualidade (mais um estimulo à falta de qualidade do nacional), depois como somos totalmente dependentes do exterior em matérias-primas, essa desvalorização, passado o impacto inicial, apenas era obtido à custa do poder de compra dos consumidores, pois os preços das nossas empresas, sem competitividade, iam subir novamente uma vez que o preço das matérias-primas é determinado em moeda estrangeira e não em moeda nacional.

Para piorar, o Estado e o sector financeiro ficariam bem pior, já que a sua dívida é em moeda estrangeira, o que obriga a um aumento dos impostos de modo a comportar os custos financeiros e demais compromissos do Estado nos mercados internacionais.  Nos bancos veríamos um aumento das taxas de juro e dos spreed, exactamente o oposto do necessário para estimular o investimentos. Logo, não existiria qualquer excedente da Balança de Pagamentos, antes pelo contrário, veríamos um agravamento da perda do poder de compra e um agravar da situação nacional, basta apenas pensar no aumento brutal que teria o valor da importação de petróleo em termos de moeda ancional.

Mas no fim o Sr. Prof. lá confessa o motivo da sua posição “O mais racional e inteligente seria reconhecer que o projecto do euro falhou.”1, quem não acredita no euro e não vê que um bloco económico europeu unido é a única hipótese que a Europa tem de ter voz na nova economia global, claro que pode dizer as coisas que diz.
Estamos quase no fundo e temos de aproveitar para limpar o país ou nunca vamos sair do fundo, o que queremos são empresas competentes, que sejam competitivas internacionalmente, esse é o caminho e não a desvalorização da moeda.


1 Jornal Sol a 2 de Outubro de 2011 (http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=29943)

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