domingo, 30 de outubro de 2011

Perdão de dívidas? Mais um erro a somar a tantos outros

Desde a semana passada que os fieis amigos do facilitismo e da desresponsabilização estão de sorriso no rosto com as notícias de perdão de parte da dívida Grega.
Nunca fui defensor de perdões da dívida, fosse quando éramos nós a perdoar dívidas ou quando outros países defendiam o perdão das suas dívidas, face ao FMI por exemplo. Assim sendo, nada mais coerente que o ser completamente contra um eventual perdão de parte da dívida nacional, como já muitos estão a pensar em pedir e que por isso consideram que nem vale a pena fazer grandes esforços para evitar essa situação.

O Estado/Governos não são aquela entidade etérea que o quadro legal português e os políticos portugueses tanto têm trabalhado para fazer parecer aos olhos dos portugueses, as coisas acontecem e ninguém tem a culpa pois a culpa é da “máquina”, só que a “máquina” não existe, não é um computador ou um robot, a “máquina” são pessoas que infelizmente em Portugal representam o que de pior existe no país, o pior em falta de moralidade, desonestidade, incompetência, e o parasitismo de uma classe dirigente, partidária e política.
Sendo que é aqui que reside o problema, normalmente os países que precisam de ajuda, que não seja por uma questão pontual de liquidez que se resolve em um par de anos como na Irlanda ou na Islândia, são países com este tipo de classes políticas que roubam e roubam os país por décadas até os deixarem completamente falidos em nome dos seus interesses pessoais. Ora, se este tipo de parasitas, após falirem um país, em lugar de serem punidos pelos seus países e pela comunidade internacional recebem um perdão de dívida, a lição que aprendem é a de que pode continuar a roubar sem problemas pois quando voltarem a deixar o país falido vão ter um novo perdão da dívida. É o mesmo que um ladrão que chega ao tribunal e o Juiz lhe dá uma segunda oportunidade, claro que ele vai pensar que afinal ir a tribunal não é assim tão mau e volta a roubar de novo já que percebe que pode roubar quanto quiser que nunca será responsabilizado pelos seus crimes.
Os Estados/Governos não são entidades abstractas e sim pessoas que agem em defesa dos seus próprios interesses e seguindo a sua cultura moral, ou a falta desta, pelo que a sua desresponsabilização/perdão é sempre uma porta aberta para voltarem a cometer o mesmo crime.

No entanto é óbvio que a comunidade internacional tem que criar oportunidades para que os países possam sobreviver ao “buraco” em que estão, pelo que sempre defendi não um perdão da dívida e sim uma renegociação da dívida para juros mais baixos, sempre num valor máximo de 2%, e um prolongamento dos prazos de pagamento.
Nunca nos podemos esquecer que um perdão de dívida não é uma coisa mágica, um estalar de dedos e é como se aquele dinheiro nunca tivesse existido. Um perdão de dívida implica que alguém fica a pagar a conta, por exemplo no caso da Grécia, o perdão da dívida vai levar a perdas brutais na banca europeia que financiou a dívida Grega, o que vai implicar que os países e instituições europeias recapitalizem a banca europeia pelas perdas originadas no perdão grego, ou seja, os países europeus têm que pagar o perdão da dívida grego, por outras palavras são os contribuintes que votaram bem e que fizeram sacrifícios para terem uma economia saudável que vão ter que pagar pelos luxos e más escolhas dos gregos.

Mas o presente problema é a implicação que o incumprimento por parte da Grécia, ou qualquer outro Estado-Membro, terá sobre a economia da UE e no Euro. Assim sendo é necessário resolver o problema grego mas acima de tudo o problema das dívidas públicas dos países do euro. É neste sentido que seria mais indicado a criação de um instrumento financeiro, que poderá ser uma modificação do fundo de resgate, que tivesse a capacidade de ficar credor dos países incumpridores, assumindo as suas dívidas e a quem estes países ficariam a pagar a totalidade da sua dívida nas condições anteriormente referidas. Por outras palavras seria uma comunicação forte e transparente ao mercado de que as dívidas dos países do euro não são assumidas pelos países individualmente e sim de toda a zona euro, responsabilizando ao mesmo tempo os países “mal comportados” já que estes seriam responsabilizados e obrigados a assumirem as suas dívidas, sem com isso colocar em causa a viabilidade das suas economias.
Obviamente que estes países teriam de submeter-se a uma rigorosa fiscalização da sua política orçamental por parte das instituições europeias de modo a evitar a manutenção das actividades corruptas e despesistas que levaram os países à situação de falência.

No caso português é mais do que evidente que a única razão pela qual o país está como está é a corrupção que corrói o país e a cultura do facilitismo. Não venham com a desculpa de ser pequenos ou a crise internacional, pois a Bélgica, por exemplo, é mais pequena do que Portugal, não tem as riquezas que tem Portugal, como por exemplo o sol (energia renovável e turismo) e uma área oceânica gigantesca e no entanto não vive a crise que Portugal vive. Qual a diferença? A cultura de mérito e de produtividade e uma classe política mais honesta e competente.

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