sábado, 11 de setembro de 2010

Qual o poder que cada um de nós tem?

Anda a correr na internet um movimento apelando a uma mega manifestação apartidária no dia 5 de Outubro em Lisboa, estando associado a esta manifestação a ideia de fazer “greve” ao pagamento de impostos enquanto o “Governo for corrupto”.
Na sequência destes movimentos e dado que no dia 6 de Setembro foram aqui abordados os aspectos de combate à corrupção que podem ser desencadeados por parte da nossa classe política, seria interessante questionar sobre qual o poder que nós, como cidadãos, temos para lutar contra a corrupção no nosso país.
Deve ser sublinhado que um Governo nunca é corrupto, a totalidade ou alguns dos políticos/pessoas que compõem esse Governo é que poderão ser corruptos, usando a legitimidade da instituição que servem para alcançar os seus próprios objectivos pessoais.

Assim sendo e seguindo a proposta do citado movimento, a questão não passa por decidir não pagar mais impostos enquanto estivermos a ser governados por políticos corruptos, já que é completamente impossível alguém o fazer por muito decidido que esteja em cumprir esse voto. Cada produto que compramos tem incluído algum imposto nem que seja apenas o IVA e ninguém pode ficar sem consumir, a não ser que seja sortudo em ter uma propriedade com dimensão suficiente para cultivar e criar a sua própria comida, gerar a sua própria energia e produzir a sua roupa, mesmo assim ele vai ser cobrado nos impostos sobre a propriedade e, se quiser ter meios de comunicação, também pagará IVA. Toda a nossa vida está taxada, mesmo sem incluirmos o IRS, temos o IVA, o IUC, o Imposto sobre produtos petrolíferos, etc., etc., etc. Em cada acção que realizamos para além de respirar estamos a pagar imposto, seja comer, conversar ao telefone, ler um jornal, ver televisão…

Querem fazer protesto contra estes políticos corruptos?
Podem fazer a manifestações que idealizam já que são sempre uma imagem e pressão mediática, ainda mais quanto temos uma classe política completamente focada na estratégia eleitoral para manter as suas posições e honorários e por consequência bastante sensível a manifestações de eleitores, mas no dia-a-dia podem fazer o que sempre se devia ter feito mas que não está na cultura dos portugueses fazer. Em lugar de ficarem falando mal dos outros que beneficiam de cunhas e depois ficarem querendo beneficiar delas alegando que “se não for assim não se vai a lado nenhum” ou “se os outros o fazem, parvo de quem é honesto” e comecem a condenar nas vossas atitudes e opiniões os corruptos, desde o irmão até ao Primeiro-Ministro ou ao PR, comecem a mudar esta cultura instalada. Comecem a evitar criarem “telhados de vidros” para que possam, em honestidade, criticar este oceano de corruptos que está instalado no Estado, seja na política seja no funcionalismo público.

Querem fazer protesto contra estes políticos corruptos?
Comecem a não aceitar passivamente o serem roubados nas relações com o Estado em detrimento dos amigos e dos partidários, guardem os documentos que comprovam os indícios de corrupção e apresentem os mesmos na PJ ou no MP. Corrupção é um crime público pelo que não há custos para quem apresenta queixa, é o MP que tem que conduzir e acusar os criminosos. Ahhh mas eles safam-se sempre, o MP não faz nada! É verdade que muitas vezes se safam, mas normalmente são aqueles já com alguma dimensão e poder, mas se todos apresentarem queixa a pressão sobre o poder judiciário fica insuportável e eles deixam de se sentir à vontade para fazer favores.

Querem fazer protesto contra estes políticos corruptos?
Vão votar em lugar de ficar em casa e termos abstenções de quase 40%, vão votar e votem em branco. Face a uma situação dessas como acham que vão os políticos justificar internacionalmente o protesto e a falta de legitimidade que têm para governar, como vão justificar politicamente o não terem o voto dos portugueses para exercer o seu mandato, quando quem ganha as eleições é o voto em branco, o voto de protesto demonstrando que a população não está divorciada da política, mas que pelo contrário não quer é ser governada por estes políticos que nos (des)governam? “fomos legitimamente eleitos pelos portugueses” deixa de poder ser desculpa para os crimes políticos cometidos. Perde a legitimidade esta situação onde só os incompetentes dos incompetentes ganham eleições, são os com menos escrúpulos que chegam ao topo da hierarquia política, pois são os que se vendem em troca de votos dentro do partido para serem eleitos a lugares de destaque, o que depois implica o pagamento desses favores às nossas custas, à custa dos nossos impostos em tachos e tachinhos.

Desta forma todos nós, no dia-a-dia, podemos mudar as coisas. Se formos a ver quais os países com menores níveis de corrupção são os países do norte da Europa, é por acaso? Claro que não, é exactamente por serem povos que culturalmente são mais exigentes com os seus governantes e os penalizam quando são incompetentes ou corruptos. É por isso que também são os países com melhor nível de qualidade de vida, não são países ricos em ouro, diamantes ou petróleo, são sim países eficientes e com produtividade, com uma cultura baseada na honestidade e na capacidade de cada pessoa em lugar nas relações e compadrio que cada um desenvolveu. Corrupção há em todo o lado, mas uma coisa é ter uma corrupção de 9.4*, outra é ter uma corrupção de 5.8* como nós.



* Ver quadro anexo a “Mais um faz de conta no combate à Corrupção “, de 6 de Setembro de 2010

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