segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A Dívida pública portuguesa e o mercado financeiro

Na segunda-feira passada (27/09/2010), o juro pago na emissão de Títulos do Tesouro da dívida pública portuguesa a 10 anos atingiu um novo recorde de 6,54%.

Uma vez mais o Governo Português vem justificar esta realidade como sendo prova do ataque especulativo que o mercado financeiro tem vindo a exercer sobre as finanças públicas portuguesas. O Primeiro-Ministro português nunca assume responsabilidade por nada de negativo que suceda em Portugal, apenas toma a dianteira quando é para colher os louros dos acontecimentos positivos, por isso a alta taxa de juro paga não pode ser da sua culpa e, assim sendo, neste caso é o mercado financeiro que está a tentar fazer com ele fique mal visto, é o mercado financeiro que ataca o seu excelente trabalho.

Mas observemos melhor esta questão. Não é o mercado que vem pedir ao Governo Português para ir se endividar em milhares de milhões de euros todas as semanas, isso acontece porque o Governo Português está a viver do crédito há mais de uma década e antes disso vivia dos fundos estruturais da União Europeia, o que significa que desde o 25 de Abril que o Governo português vive de dinheiro estrangeiro, primeiro foi o FMI (no início dos anos 80), depois foram os fundos comunitários (depois de 1986) e mais recentemente vive do aumento anual da dívida pública.

Em 2008 o actual Governo reclamou uma redução do défice, mas a realidade é que foram apenas medidas particulares que teriam efeitos limitados a esses anos, não tendo sido levada a cabo uma reestruturação do aparelho de Estado que permitiria uma redução sustentada do défice como o país precisa. A prova disso é que o défice continua a crescer apesar de já não estarem a ser aplicadas as medidas anti-crise usadas como desculpa pelo PM, o que é mentira.

Assim sendo, será a actual situação um ataque especulativo contra a divida pública nacional?

A realidade é que os agentes do mercado financeiro estão a emprestar o dinheiro que outras pessoas pouparam e aplicaram em contas bancárias ou em fundos. É o nosso dinheiro (o das pessoas que poupam em vários países). Sabendo isto experimentemos colocar a questão da seguinte forma: emprestaria as suas poupanças a uma pessoa que gasta mais do que ganha e não demonstra qualquer intenção de fazer mudanças no seu estilo de vida ou começar a cortar nos seus gastos? E para emprestar não iria querer ter um juro maior pelo risco que vai correr? Porque é isso que está a suceder todas as semanas quando o Governo Português vai ao mercado pedir milhares de milhões de euros e continua anunciando o TGV ou o novo aeroporto nacional, além de continuar a evitar reduzir os gastos do Estado. O Governo quer manter o seu estilo de vida luxuoso com o dinheiro de outros. O Governo está a matar a classe média, sendo que é esta que suporta a economia dos países e como os impostos não são suficientes para manter o seu estilo de vida luxuoso, continuam aumentando a divida pública e alguém um dia pagará o preço, uma vez que eles já estão com os bolsos cheios.

Este ano a admissão dos boys (corrupção) teve um aumento e o défice de quase todos os ministérios foi inflacionado, o que prova que a redução do défice será feita apenas através da redução do rendimento das famílias e o aumento da carga fiscal e não pelas medidas necessárias para obter uma redução real e sustentada do défice. O Governo matará a actividade económica antes de iniciar qualquer acção contra o problema real, ou seja a corrupção no Estado, porque o Governo está sustentado por essa corrupção, já que sem os “Jobs for the Boys” o PM irá perder o apoio partidário que o suporta.

Emprestaria dinheiro a este Governo? Eu não.

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